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Eu, coruja...

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Observo o que ninguém vê.

domingo, 18 de julho de 2010

PORQUE MARCELO TAS NÃO É PETISTA...

do Blog "Pedro da Veiga"




por Marcelo Tas


Por não ser petista, sempre fui considerado “de direita” ou “tucano” pelos meus amigos do falecido Partido dos Trabalhadores. Vejam, nunca fui “contra” o PT. Antes dessa fase arrogante mercadântica-genoínica, tinha respeito pelo partido e até cheguei a votar nos “cumpanheiro”. A produtora de televisão que ajudei a fundar no início da década de 80, a Olhar Eletrônico, fez o primeiro programa de TV do PT. Do qual aliás, eu não participei. Desde o início, sempre tive diferenças intransponíveis com o Partido dos Trabalhadores. Vou citar duas. Primeira: nunca engoli o comportamento homossexual dos petistas. Explico: assim como os viados, os petistas olham para quem não é petista com desdém e falam: deixa pra lá, um dia você assume e vira um dos nossos. Segunda: o nome do partido. Por que “dos Trabalhadores”? Nunca entendi. Qual a intenção? Quem é ou não é “trabalhador”? Se o PT defende os interesses “dos Trabalhadores”, os demais partidos defendem o interesse de quem? Dos vagabundos? E o pior, em sua maioria, os dirigentes e fundadores do PT nunca trabalharam. Pelo menos, quando eu os conheci, na década de 80, ninguém trabalhava. Como não eram eleitos para nada, o trabalho dos caras era ser “dirigentes do partido”. Isso mesmo, basta conferir o currículum vitae deles. Repare no choro do Zé Genoníno quando foi ejetado da presidência do partido. Depois de confessar seus pecadinhos, fez beicinho para a câmera e disse que no dia seguinte ia ter que descobrir quem era ele. Ia ter “que sobreviver” sem o partido. Isso é: procurar emprego. São palavras dele, não minhas. Lula é outro que se perdeu por não pegar no batente por mais de 20, talvez 30 anos… Digam-me, qual foi a última vez, antes de virar presidente, que Luis Ignácio teve rotina de trabalhador? Só quando metalúrgico em São Bernardo. Num breve mandato de deputado, ele fugiu da raia. E voltou pro salarinho de dirigente de partido. Pra rotina mole de atirar pedra em vidraça. Meus amigos petistas espumavam quando eu apontava esse pequeno detalhe no curriculum vitae do Lula. O herói-mor do Partido dos Trabalhadores não trabalhava!!! Peço muita calma nessa hora. Sem nenhum revanchismo, analisem a enrascada em que nosso presidente se meteu e me respondam. Isso não é sintoma de quem estava há muito tempo sem malhar, acordar cedo e ir para o trabalho. Ou mesmo sem formar equipes e administrar os rumos de um pequeno negócio, como uma padaria ou de um mísero botequim? Para mim, os vastos anos de férias na oposição, movidos a cachaça e conversa mole são a causa da presente crise. E não o cuecão cheio de dólares ou o Marcos Valério. A preguiça histórica é o que justifica o surto psicótico em que vive nosso presidente e seu partido. É o que justifica essa ilusão em Paris…misturando champanhe com churrasco ao lado do presidente da França…outro que tá mais enrolado que espaguete. Eu não torço pelo pior. Apesar de tudo, respeito e até apoio o esforço do Lula para passar isso tudo a limpo. Mesmo, de verdade. Mas pelamordedeus, não me venham com essa história de que todo mundo é bandido, todo mundo rouba, todo mundo sonega, todo mundo tem caixa 2… Vocês, do PT, foram escolhidos justamente porque um dia conseguiram convencer a maioria da população (eu sempre estive fora desse transe) de que vocês eram diferentes. Não me venham agora querer recomeçar o filme do início jogando todos na lama. Eu trabalho desde os 15 anos. Nunca carreguei dinheiro em mala. Nunca fui amigo dessa gente. Pra terminar uma sugestão para tirar o PT da crise. Juntem todos os “dirigentes”, “conselheiros”, “tesoureiros”, “intelectuais” e demais cargos de palpiteiros da realidade numa grande plenária. Juntos, todos, tomem um banho gelado, olhem-se no espelho, comprem o jornal, peguem os classificados e vão procurar um emprego para sentir a realidade brasileira. Vai lhes fazer muito bem. E quem sabe depois de alguns anos pegando no batente, vocês possam finalmente, fundar de verdade um partido de trabalhadores.

sábado, 17 de julho de 2010

PLANALTO PROMOVE DILMA EM KIT POR VOTO EM MULHERES

Planalto promove Dilma em kit por voto em mulheres


Autor(es): Christiane Samarco, Leandro Colon

O Estado de S. Paulo - 15/07/2010


O governo federal produziu e distribuiu 215 mil cartilhas, 20 mil cartões e 3 mil livros defendendo que se vote em mulheres. Foi incluído no material um discurso da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. A cartilha é intitulada Mais Mulheres no Poder e foi entregue a partidos, parlamentares e candidatos nos Estados.

Distribuição do material, por parte do governo, começou no mês passado, pouco antes do início oficial da campanha eleitoral

O governo federal produziu e distribuiu 215 mil cartilhas, 20 mil cartazes e 3 mil livros defendendo o voto nas mulheres. Também foi incluído no material um discurso de seis páginas da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.

O kit foi enviado em caixas de papelão pela Secretaria de Políticas para as Mulheres ? órgão vinculado à Presidência da República ? a partidos políticos, deputados, senadores e demais candidatos nos Estados.

Apesar de ter sido elaborado em 2008 e 2009, o material só foi impresso em maio. A distribuição, por parte do governo, começou no mês passado, pouco antes do início oficial da campanha eleitoral. A capa da cartilha, intitulada Mais Mulheres no Poder Plataforma 2010, traz a imagem de um botão verde com a expressão "confirma" ? similar a uma urna eletrônica ? e a frase "eu assumo este compromisso". Ontem, a Secretaria para as Mulheres distribuiu a publicação em Brasília numa conferência sobre a mulher na América Latina.

Militante. Já o livro intitulado Mais Mulher no Poder: uma questão da democracia & Pesquisa Mulheres na Política informa ser a Presidência da República a responsável pela obra e a secretaria pela "elaboração, distribuição e informações".

A partir da página 17, Dilma relata seu passado de militante de esquerda, seu histórico no governo Lula e destaca ter sido a primeira mulher a ocupar a chefia da Casa Civil. "Eu acredito que as mulheres são capazes de assumir esses espaços e têm uma dedicação inequívoca", diz trecho do discurso feito por Dilma num seminário no ano passado.

Em carta assinada no dia 18 de junho e enviada ao Congresso, Sônia Malheiros Miguel, subsecretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas, relata aos parlamentares detalhes sobre o livro e a cartilha. Ela avisou que, se for necessário, o governo poderá enviar mais exemplares.

Site. Em nome de Sônia Miguel está o site Mais Mulheres no Poder, que destaca a cartilha que pede votos para as mulheres com o botão verde "confirma". Ela aparece como "coordenadora-geral". O governo contribui para a manutenção do site. Em abril, por exemplo, lançou edital para contratar consultoria destinada a abastecer o seu conteúdo. No mês passado, o site oficial da campanha de Dilma indicou a visita a essa página, informando que o "governo federal" a lançou.

O custo de impressão das cartilhas, dos livros e dos cartazes foi de, pelo menos, R$ 72 mil ? o dinheiro saiu de um convênio entre o governo e o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Coube à Secretaria de Políticas para as Mulheres enviar para a gráfica o arquivo com o material a ser impresso, aprovar o produto final e recebê-lo para distribuição em todo o País. Dois funcionários da secretaria foram destacados para cuidar dessa etapa de produção.

Inicialmente, seriam impressas 100 mil cartilhas ao preço total de R$ 27 mil, mas um pedido extra de mais 115 mil foi feito à gráfica contratada, acrescentando uma despesa de mais R$ 31 mil. Os livros custaram R$ 9,7 mil e os cartazes, R$ 4,7 mil.

Oposição. As caixas enviadas pelo governo ao Congresso ? cada uma com 450 publicações ? pegaram os parlamentares da oposição de surpresa. O conteúdo do material chamou a atenção por defender o voto nas mulheres com um discurso de Dilma Rousseff dentro de um livro.

A Procuradora Especial da Mulher na Câmara dos Deputados, a deputada Solange Amaral (DEM-RJ), que preside o DEM Mulher, considerou a publicação um "escândalo". A irritação do DEM deu-se também porque a cartilha cita o nome do partido entre as legendas que, alega o governo, aprovaram o seu conteúdo em 2008, num fórum nacional sobre os direitos da mulher.

"Estão tentando usar a gente para lavar a autoria da cartilha e legitimar a publicação. Querem usar o fórum para laranjar o material", diz a deputada. "O DEM nunca faria uma cartilha com essa cara, com a cara da Dilma." Irritadas, as senadoras Lúcia Vânia (PSDB-GO) e Rosalba Ciarlini (DEM-RN) decidiram não levar o material para seus Estados.


CARTA RESPOSTA DA VEREADORA TIEZA AO JORNAL "O ESTADO DE SÃO PAULO"

Mais um golpe do PT; desta vez, contra as mulheres

Sobre a matéria intitulada “Planalto promove Dilma em kit por voto em mulheres”, publicada no O Estado de S. Paulo, de 15 de julho, cumpre-nos esclarecer que nós, mulheres do PSDB, DEM e PPS do estado de S. Paulo, percebemos essa sutil tentativa de impor a candidata Dilma às mulheres paulistas, tão logo chegaram os convites para o Fórum de Instâncias de Mulheres de Partidos Políticos, realizado em São Paulo, no dia 14 de maio.

O material apresentado, o conteúdo e o formato do Fórum, anunciavam tratar-se de uma manobra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, do governo federal, para atrair o voto delas – das mulheres.

Indignadas com a suspeita de um novo golpe, desta vez dirigido aos movimentos organizados em prol da maior participação política das mulheres, enviamos documento à presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina, comunicando a decisão de não participarmos do Fórum.

O que lamentamos profundamente é que a cachaça que sustenta a embriaguez permanente de poder do PT e de seus aliados, seja custeada com o suor dos que sonham com um país melhor para os brasileiros e brasileiras. Desta vez o golpe foi contra as mulheres e o prejuízo – não em meias ou cueca – em milhões de caixas de papelão contendo 215 mil cartilhas, 20 mil cartazes, 3 mil livros defendendo o voto nas mulheres e ainda discurso de seis páginas da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Tudo isso distribuído à revelia dos prazos permitidos pela lei para a propaganda eleitoral, aos partidos políticos, deputados, senadores e demais candidatos nos Estados.

terça-feira, 13 de julho de 2010

IRÃ SUSPENDE PENA DE MORTE POR APEDREJAMENTO

MUNDO

12/07/2010
Irã suspende pena de morte por apedrejamentoAgências


A Justiça iraniana decidiu suspender, até segunda ordem, a pena de morte por apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani, uma mulher de 43 anos acusada de adultério. O anúncio foi feito ontem pela agência oficial Irna.

"O veredicto foi suspenso por motivos humanitários e por ordem do chefe da autoridade judiciária e não será aplicado no momento", declarou Malek Ajdar Sharifi, encarregado da Justiça na província do Azerbaijão Oriental.

Mãe de dois filhos, Sakineh recebeu 99 chicotadas após ter sido considerada culpada, em maio de 2006, de ter uma "relação ilícita" com dois homens. Depois, ela foi declarada culpada de "adultério estando casada", crime que sempre negou, e condenada à morte por apedrejamento.

Mobilização

O anúncio de que a aplicação da pena "poderia ser em breve" despertou uma grande mobilização internacional, e países como França, Estados Unidos, Inglaterra e Chile expressaram suas críticas à decisão de Teerã.

Dezenas de celebridades dos mundos político e cultural, como o brasileiro Chico Buarque e a viúva de John Lennon, Yoko Ono, assinaram uma carta aberta contra o apedrejamento até a morte de Sakineh.

O texto da carta, disponível no site Save Sakineh (Salve Sakineh), pede a eliminação da prática de apedrejamento no Irã, "que viola toda e qualquer definição de direitos humanos". O documento já foi assinado por 45.230 pessoas, incluindo ainda os cantores Peter Gabriel, Sting, Annie Lennox e o brasileiro Caetano Veloso, além dos atores Colin Firth, Emma Thompson, Robert Redford, Juliette Binoche e Robert de Niro.

O romancista indiano Salman Rushdie e a ex-secretária de Estado americana Condoleezza Rice também estão na lista. "O apedrejamento é bárbaro e precisa parar", afirma nota do site.

Salve Sakineh Mohammadi Ashtiani

DEP. DIMAS RAMALHO DEBATE LEI FICHA LIMPA NA TV, AO VIVO

Dimas debate lei da Ficha Limpa, nesta terça, na TV Câmara


Por: Luis Zanini


O deputado federal Dimas Ramalho (PPS-SP) irá debater ao vivo, nesta terça-feira, no programa Expressão Nacional, da TV Câmara, às 21h30, a lei da Ficha Limpa, regra que já impede a participação de candidatos condenados pela Justiça nas eleições deste ano.

De acordo com a produção do programa, o debate deve ficar concentrado na tramitação do projeto de iniciativa popular que resultou na lei e que recebeu mais de 1,6 milhões de apoios, e na interpretação e aplicação das regras pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Além de Dimas, participam do programa o deputado federal Fernando Ferro (PT-PE) e dois advogados especialistas em leis eleitorais, cujos nomes ainda não foram confirmados pela produção.

Para o deputado do PPS, a aprovação e sanção da lei representou "uma grande vitória da democracia brasileira garantida pela mobilização sociedade". A legislação da Ficha Limpa não permite candidaturas de pessoas condenadas por decisão colegiada (mais de um juíz) da Justiça por crimes de maior gravidade, como corrupção, abuso de poder econômico, homicídio e tráfico de drogas. O texto em vigor também amplia os casos de inelegibilidade e unifica em oito anos o período durante o qual o candidato ficará sem poder se candidatar

domingo, 11 de julho de 2010

UMA MULHER É MORTA A CADA DUAS HORAS NO BRASIL... AINDA.

Enviado por Ricardo Noblat - 11.7.2010
3h09m

Uma mulher é morta a cada duas horas no Brasil

Uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil, deixando o país em 12 no ranking mundial de homicídios de mulheres. A maioria das vítimas é morta por parentes, maridos, namorados, ex-companheiros ou homens que foram rejeitados por elas.

Segundo o Mapa da Violência 2010, do Instituto Sangari, 40% dessas mulheres têm entre 18 e 30 anos, a mesma faixa de idade de Eliza Samudio, 25 anos, que teria sido morta a mando do goleiro Bruno.

Dados do Disque-Denúncia, do governo federal, mostram que a violência ocorre na frente dos filhos: 68% assistem às agressões e 15% sofrem violência com as mães, fisicamente, revela reportagem de Tatiana Farah na edição deste domingo do jornal O GLOBO.

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XI CONFERÊNCIA REGIONAL DA MULHER, 13 a 16 de Julho/2010

Hora de valorizar o trabalho feminino não remunerado


Qui, 08 de Julho de 2010 / Daniela Estrada, da IPS


Santiago, 8/7/2010 – Chegou a hora de os países latino-americanos valorizarem economicamente o trabalho feminino não remunerado e proporcionarem serviços de atenção a pessoas dependentes. É o que proporá a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) na XI Conferência Regional da Mulher, entre 13 e 16 deste mês, em Brasília. A recomendação consta do informe “Qual Estado para qual igualdade?”, preparado pela Cepal para este encontro intergovernamental que analisará o progresso nos compromissos assumidos pelos países na conferência anterior, de 2007, em Quito.

Segundo o documento, para alcançar a igualdade entre homens e mulheres é preciso que elas obtenham autonomia econômica, física e política. A “igualdade trabalhista”, na qual se centra principalmente a proposta da Cepal, seria indispensável para obtê-la. A participação da população feminina urbana na atividade econômica geral é de 52% na região, distante dos 78% dos homens.

Outro indicador criado em anos recentes para medir a autonomia econômica das mulheres mostra que na região 31,6% da população feminina com mais de 15 anos carece de renda própria, embora 81% das mulheres nessa situação trabalhem para familiares ou em outras tarefas não remuneradas. A Cepal estima que, se as mulheres não colaborassem com a renda familiar, os lares pobres urbanos aumentariam, em média, 9% e os rurais 6%.

“Para melhorar a autonomia econômica das mulheres pensamos que deve existir uma co-responsabilidade maior entre Estado, família e mercado”, disse à IPS a secretária-executiva da Cepal, a mexicana Alicia Bárcena. Em 12 países analisados da região, as mulheres dedicam mais tempo do que os homens ao trabalho doméstico, e sua carga total de trabalho é maior do que a deles. Segundo dados de 2007, as mulheres equatorianas, por exemplo, somam 107,5 horas semanais de trabalho total contra as 87,2 horas dos homens.

“O Estado tem o dever de atender a insuficiência de instituições públicas de atenção a crianças, idosos e incapacitados, e o dever de regular para que as empresas privadas e o mercado também proporcionem esse mesmo tipo de proteção social para as mulheres”, disse Bárcena. Outra política que poderia melhorar a autonomia econômica delas seria o direito a pensão para as maiores de 60 anos que não tenham realizado trabalho remunerado, acrescentou. O Chile, desde 2008, paga aposentadoria para mulheres nessa situação das camadas mais pobres.

Nas constituições de 1999 da Venezuela, Equador, Bolívia e República Dominicana é reconhecida a contribuição econômica e social do trabalho não remunerado e de cuidado, mas isso ainda não se traduziu em leis que os recompensem ou os incluam como uma variedade das contas nacionais. Em países como Brasil, Argentina, Costa Rica, Chile, México, República Dominicana e Uruguai foram implementadas iniciativas de igualdade de gênero na atividade empresarial, com as certificações de boas práticas, que medem a paridade em recrutamento, capacitação, carreira profissional e acesso a cargos de direção.

A vontade política cresceu, destacou Bárcena, “mas isto tem de seguir lado a lado com os recursos econômicos, de itens no orçamento fiscal”. A isso deve ser somada uma “mudança de civilidade, onde as novas gerações se corresponsabilizem de outra forma”, acrescentou.

“Os direitos econômicos das mulheres devem ser respeitados e assegurados pelos Estados em seus projetos de desenvolvimento”, disse à IPS Rebecca Tavares, representante do Fundo das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) para o Brasil e o Cone Sul da América, organismo que participará ativamente do encontro em Brasília. “A crise econômica mostrou os limites e o esgotamento das práticas financeiras e econômicas atuais”, acrescentou. A seu ver, “se faz urgente uma análise em profundidade do modelo de desenvolvimento e maiores incentivos às experiências que aproveitem o ativo potencial produtivo das mulheres em sua totalidade”. Tavares deu como exemplo os “programas de transferência condicionada de renda a grupos vulneráveis pelas dimensões de gênero, raça, etnia e condição econômica”.

Além disso, a sociedade civil apresentará em Brasília uma ferramenta de monitoramento dos compromissos assumidos pelos países nestas conferências regionais da mulher. Trata-se do ISO-Quito, criado pela Articulação Feminista Marcosur (AFM), cujos primeiros resultados foram apresentados à IPS por Lucy Garrido, da equipe de coordenação desta entidade formada por redes regionais e nacionais e organizações não governamentais de sete países sul-americanos. Com base nos dados disponíveis, de 2007, a AFM criou vários indicadores, como uma escala de 0 a 1, onde o maior valor é melhor posição.

O Índice de Paridade Econômica e Trabalhista, que mede participação no mercado de trabalho, cobertura da assistência social, salário médio urbano e incidência da pobreza, é liderado pelo Uruguai, com 0,824 ponto, entre 17 países analisados. A seguir aparecem Brasil com 0,786, Paraguai com 0,772, Peru com 0,763, Argentina com 0,748 e Equador com 0,740. O México, a segunda economia da região, aparece em 11° lugar com 0,695, e o Chile, com alto desenvolvimento humano mas uma das menores taxas de participação feminina no trabalho, está entre os últimos colocados com 0,687 ponto.

O Índice de Compromissos Institucionais, no entanto, analisa aspectos como o impulso a leis de cotas para promover a participação política feminina, a existência de normas contra a violência machista e o assédio sexual, ou a assinatura e ratificação da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (Cedaw).

Este índice, com dados de todos os países latino-americanos, também avalia a institucionalidade de gênero, a implementação de planos nacionais de igualdade e de pesquisas de uso do tempo e do trabalho não remunerado, e a legalidade de alguns casos de aborto. O país melhor situado neste caso é a Costa Rica, com 0,937 ponto, e o pior a Nicarágua, com 0,229 ponto. Outras nações com bom desempenho são Argentina, com 0,895, Equador, com 0,854 e Bolívia, com 0,833.

O Consenso de Brasília, com o qual se encerrará a conferência, destacará a melhoria das estatísticas, especialmente em matéria de violência sexista, e na avaliação e cooperação Sul-Sul de boas práticas, anunciou Bárcena. Além disso, possivelmente seja criado um observatório de políticas públicas.

IPS/ Envolverde

quinta-feira, 8 de julho de 2010

CIRCUNCISÃO FEMININA NO SÉCULO XXI

'É impossível descrever a dor', diz modelo sobre circuncisão feminina


Sáb, 03 de Julho de 2010 / Giovana Sanchez - Do G1, em São Paulo


Somali Waris Dirie escreveu livro que inspirou filme em cartaz esta semana. Em todo o mundo, até 140 milhões de mulheres sofrem com mutilação.
As histórias são parecidas: sem aviso, as meninas são levadas pelas mães a um local ermo, onde encontram uma espécie de parteira que as espera com uma navalha. Sem qualquer anestesia ou assepsia, a mulher abre as pernas das garotas - muitas vezes, crianças de menos de dez anos - e corta a região genital, num procedimento que varia da retirada do clitóris ao corte dos grandes lábios e à infibulação (fechamento parcial do orifício genital).
Com Waris Dirie não foi diferente. "Desmaiei muitas vezes. É impossível descrever a dor que se sente", disse em entrevista ao G1 a hoje modelo e ativista contra a mutilação genital feminina. Dirie nasceu num vilarejo da Somália e foi circuncisada aos cinco anos.
Após conseguir fugir de um casamento arranjado por seu pai aos 13 anos, ela foi parar em Londres, onde chamou a atenção de um fotógrafo. Dirie se tornou modelo internacional e uma ferrenha ativista contra a circuncisão feminina. Sua história, contada no livro "Flor do deserto", virou filme com o mesmo nome - em cartaz em São Paulo.
"É uma vergonha que uma tortura bárbara, cruel e inútil continue a existir no século XXI". Dirie diz que sempre sentiu que aquilo não estava certo e quando se tornou uma 'supermodelo' pode começar a luta contra a prática. Aos 45 anos, ela é fundadora de uma organização que leva seu nome e embaixadora da ONU contra a mutilação feminina.
Ela mora com a família em uma casa alugada na Etiópia e disse que está tentando convencer a cunhada a não circuncisar as filhas. "Estou confrontando a mutilação na minha própria família. Meu irmão tem seis meninas, todas menores de idade e que vivem no deserto. Minha cunhada quer mutilá-las. Por causa disso eu estou tentando trazer as meninas para um lugar seguro. Isso tira meu sono todas as noites."

Ocorrências

Estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que entre 100 e 140 milhões de meninas e mulheres vivem hoje sob consequências da mutilação - a maioria na África. A organização tem uma campanha contra a prática, que considera prejudicial à saúde da mulher e uma violação dos direitos humanos.

A mutilação ocorre em várias partes do mundo, mas tem registro mais frequente no leste, no oeste e no nordeste da África e em comunidades de imigrantes nos EUA e Europa. Em sete países africanos - entre eles Somália, Etiópia e Mali - a prevalência da mutilação é em 85% das mulheres.

Um estudo da ONG Humans Rights Watch de junho deste ano (clique para ler a pesquisa, em inglês) mostra que, no Curdistão iraquiano, 40,7% das meninas e mulheres de 11 a 24 anos passaram por mutilação.

Uma declaração da OMS de 2008 contra a prática diz que a mutilação "é uma manifestação de desigualdade de gênero, [...] uma forma de controle social sobre a mulher" e que é geralmente apoiada tanto por homens quanto por mulheres. Segundo o texto, algumas comunidades entendem a circuncisão como artifício para reprimir o desejo sexual, garantir a fidelidade conjugal e manter as jovens "limpas" e "belas".

"Não tem nada a ver com religião. Todas as meninas que são vítimas de FGM [mutilação genital feminina, na sigla em inglês] também são vítimas do casamento forçado. A maioria é vendida quando criança a homens mais velhos. Eles não pagariam por uma noiva que não é mutilada. É uma vergonha para nossas comunidades, para os países que permitem a prática. Os homens temem a sexualidade feminina, essa é a verdade", explica Dirie.

E ela não é a única a falar abertamente sobre o assunto. A médica egípcia Nawal El Saadawi, também circuncisada, chegou a ser presa em seu Egito natal após falar do tema e fazer campanha contra a prática. Sua história foi contada no livro "A daughter of Isis" ('Filha de Isis'), e em outros em que aborda a questão feminina nos países do Oriente Médio.

Danos à saúde

A OMS divide a prática em quatro tipos: o tipo 1 é a remoção total ou parcial do clitóris; o tipo 2 é a retirada do clitóris e dos pequenos lábios; o terceiro tipo envolve o estreitamento do orifício vaginal pela criação de uma membrana selante, corte ou aposição dos pequenos lábios e/ou dos grandes lábios (a chamada infibulação); o tipo 4 é qualquer outra forma de intervenção por razão não médica. Os primeiros dois tipos correspondem a 90% das ocorrências de mutilação, segundo a OMS.

De acordo com a ginecologista da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) Carolina Ambrogini, a circuncisão traz riscos imediatos, como hemorragia e infecção. "Não temos registros dessa prática no Brasil. A vagina é uma região muito vascularizada, e há perigo de sangramento intenso, infecção e até de morte. As consequências a longo prazo são um possível trauma psicológico e a perda do prazer na relação sexual."

Os casos de infibulação também trazem riscos durante o parto: segundo um estudo da OMS, a mortalidade de bebês é 55% maior em mulheres que sofreram procedimentos para redução do orifício vaginal.

Polêmica nos EUA

No começo do mês de junho, a Academia Americana de Pediatria (AAP) dos EUA emitiu uma declaração indicando que talvez fosse melhor que os médicos fossem autorizados a realizar uma forma leve de circuncisão feminina nas clínicas americanas do que deixar as famílias enviarem as filhas para os países de origem que realizam o procedimento de maneira rudimentar e sem segurança. O texto gerou polêmica e muitas críticas de organizações de direitos humanos - a mutilação genital feminina é proibida por lei nos EUA - e foi retirado pela AAP.

Em entrevista ao G1 por e-mail, a presidente da AAP, Judith Palfrey, disse que a AAP "é contra todas as formas de mutilação e nunca recomendou a prática. Uma confusão foi gerada a partir de uma discussão acadêmica". A relatora da declaração, Dena Davis, disse que médicos acreditam que algumas meninas estão sendo levadas a países africanos para a realização da prática, embora não haja dados sobre isso. "O objetivo do texto era educar os médicos para tentar orientar as famílias que pedem pelo procedimento."

A última declaração da OMS contra a prática afirma que o trabalho junto às comunidades está tentando reverter o costume e tem obtido sucesso em algumas regiões, apesar da lenta taxa de redução.


"A prática continua porque o mundo não toma nenhuma atitude séria contra isso, nem a ONU nem nenhum outro país do mundo. Encontrei muitos políticos. E ouvi muito blábláblá. Mas não vejo nenhuma atitude séria para acabar com esse crime"...