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Eu, coruja...

Eu, coruja...
Observo o que ninguém vê.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Com licença - sou mulher.

Sou alta.
Sou baixa.
Sou gorda.
Sou magra.
Sou negra.
Sou branca.
Sou vermelha.
Sou de várias cores e tonalidades diferentes...
Meu cabelo tem a cor que eu desejar - ele é meu.
E a textura dele é diversa, sou única e uso cachos, fios retos, apliques - repito: É MEU.
Meus olhos olham dentro da sua alma - e não importa qual a cor deles, continuam parecendo flores brilhantes que dizem tudo sem que eu precise mover meus lábios...
Se pratico esportes ou não - isso faço apenas 'prá mim: não 'prá ser usada como brinquedo pneumático.
E tenho celulite, sim: nasci com ela, faz parte do meu corpo como as estrias e os culotes. Sou mulher, não boneca e não tenho que me cortar, costurar, amputar ou implantar qualquer coisa em mim, só 'prá ser aceita e desejada.
Porque minha beleza reside na minha imperfeição - e minha imperfeição é justamente minha perfeição.
Porque sou única, exclusiva, plena e absoluta em minha beleza, inteligência e "gostosura".
Meus acertos existem 'prá que eu sirva meu próximo e faça minha parte por um mundo mais justo e habitável.
E meus erros existem 'prá que meu ego não cresça mais do que eu.
Sou criatura animal e política.
Sou MULHER - e nada que me façam vai me roubar esse prazer, essa honra e essa felicidade.
Já me dobrei e chorei; já fui ao chão, debaixo da mão que me oprimia. Mas me levantei, enfrentei meu opressor e lutei por minha auto-estima, seguida de minha liberdade.
Não sou uma mulher qualquer - porque nenhuma mulher é uma mulher qualquer.
Sou doce e forte.
Sou guerreira.
Tenho medo - mas tenho coragem.
Tenho amor e tenho paixão.
Dentro de mim reside uma inquietude que só se aplaca quando vejo o sorriso dos meus filhos, quando me sinto amada e quando consigo fazer entender a outra mulher o quanto ela pode, o quanto ela é e o quanto merece.
Não sou feminista - apenas não aceito ser expulsa do meu lugar no mundo.
Não sou melhor do que ninguém... mas também ninguém é melhor do que eu.
Sei que não vou mudar o mundo em minha geração... mas não vou assistir à vida de luneta 'prá depois de minha morte ser lembrada pelo tempero do meu arroz.
Eu não me conformo, embora seja feliz.
Porque se a infelicidade me vencesse, eu vegetaria.
E se um dia vier a me conformar - é porque não moro mais nesse corpo.
Eu quero viver - e transformar o mundo à minha volta.
Há muitas outras como eu e mais fortes e obstinadas.
Temos muito o que aprender e muito o que fazer.
Estou ocupando meu lugar - e que cada uma ocupe o seu.
O mundo jamais será perfeito.
Mas se soubermos nos respeitar e lutarmos juntas... ele será mais colorido - e terá um cheiro melhor.

Jordana Lima Duarte.

quinta-feira, 25 de março de 2010

DE BURCA...


A adolescente 23225, de 15 anos, alega ter sido estuprada no Hospital Psiquiátrico Pinel, em Pirituba, São Paulo.
O estupro teria ocorrido no dia 21 de fevereiro último, pelo segurança da guarita 2 daquele complexo.
A menina está lá desde os 11 anos, quando teria sido internada por "transtorno de conduta". Recebeu alta logo depois, mas a família não a queria e não foi buscá-la. Desde então, ela vive no manicômio com outras crianças e adolescentes com quadros agudos, numa ala fechada e medicada com drogas usadas em pacientes psicóticos.
Quem é 23225?

Mulheres, no Afeganistão, são mulheres como outras quaisquer - são crianças q se tornam adolescentes sonhadoras e, ao chegar à "idade certa" se casam e têm seus filhos. Mas não podem fazer coisas simples como brincar num parque, correr e se jogar com as crianças na grama, de pernas 'pro ar, porque seu traje não permite - estão debaixo de uma burca. Estudar, ser examinada por um médico - coisas fundamentais que lhes são negadas, porque não são consideradas "gente". São reprodutoras, apenas. Seus filhos, em caso de separação ou qualquer situação semelhante, não lhes pertencem - são da família do marido.
Não podem pintar suas unhas de vermelho - sob pena de lhes amputarem os dedos. E se, 'numa infelicidade, pisarem n'alguma mina e perderem uma perna - afinal, debaixo daquela burca, não é lá muito fácil saber por onde se anda - jamais poderiam ser operadas por um homem e, na falta de profissionais qualificados do sexo feminino, seus ferimentos são mal e porcamente tratados, podendo levá-las à morte por infecção. É claro que temos casos não tão graves onde se ajeita uma prótese de qualquer tamanho e esta sempre lhe será desconfortável por não ter sido projetada 'prá ela...

Há países, na África, onde desde cedo se coloca nos pescoços das meninas anéis que vão aumentando em quantidade até chegar à idade adulta. São as chamadas "mulheres girafa". O interessante desse hábito bizarro é que, em caso de adultério ou a suspeita deste, os anéis lhes são retirados e seus pescoços, que não têm a musculatura desenvolvida adequadamente por conta dos tais anéis, pende grotescamente, provocando sua asfixia seguida, é claro, de sua morte.

Em outros países do continente africano de maioria muçulmana, ainda tem-se o hábito de retirar o clitóris da menina quando esta chega à puberdade. Tudo é feito num ritual "de passagem": a menina fica 'numa cadeira ginecológica de pernas abertas, enquanto o sujeito lhe corta fora o pequenino e mais sensível órgão de seu corpo, diante de uma platéia FEMININA que comemora aos gritos e louvores enquanto a menina tem talvez a pior dor - física e moral - de sua vida. Isso é feito, ao que parece, com o intuito de que ela não tenha desejos sexuais e, portanto, não venha a ter uma conduta considerada sexualmente inadequada.
Imaginem se falassem em PONTO G e outras coisas mais...

Até bem pouco tempo atrás, uma mulher, no Japão, não poderia caminhar a menos de dois passos do marido, em público. O interessante é que uma gueixa gozava de muito prestígio, podendo caminhar ao lado do homem.

Em Natal, João Pessoa e Fortaleza - são apenas alguns exemplos - temos mães que vendem suas filhas de nove ou dez anos a qualquer turista extrangeiro em troca de algumas cervejas.

Há pouco tempo, três meninas, no interior do Brasil, foram estupradas, barbarizadas, espancadas e tudo isso foi postado na internet. Seus agressores estão soltos porque o juiz entendeu que elas estavam se prostituindo.
É DE CRIANÇAS QUE ESTAMOS FALANDO.
E ainda cabe aqui a pergunta: um homem paga 'prá ter sexo com uma mulher e isso a torna COISA, em vez de pessoa? Então ele paga e pode dispor como quiser dessa mulher??...

Li, por esses dias, o resultado de uma pesquisa com 3000 moças de até 24 anos na Inglaterra. Uma em cada dez disse ter feito sexo com mais de 10 parceiros. Homens responderam a essa pesquisa chamando-as de vagabundas.
Isso ainda existe???
Então, no século 21, ainda somos chamadas de vagabundas porque gostamos tanto de sexo quanto os homens?
Ainda permanece o conceito dos dois tipos de mulheres: Maria Madalena e Maria, mãe de Jesus. Conceito católico mas que se espalha por praticamente todas as culturas. Irreal, tendo em vista que nenhum dos dois estereótipos corresponde à mulher de verdade.
Talvez devessem nos queimar nas fogueiras? Talvez enfiar anéis em nossos pescoços? Ou quem sabe deviam nos arrancar os clitóris??

É cansativo ouvir falar de direitos das mulheres e ver que elas continuam apanhando e morrendo; meninas continuam sendo vendidas e estupradas e ainda estamos em situação privilegiada em relação a outras mulheres de lugares outros.

Não podemos esperar que venha dos homens essa mudança - sejam eles de qualquer instância. Isso deve partir de nós e temos vários exemplos de mulheres que batalharam e mesmo se arriscaram e morreram pelos direitos de todas. Mas, ao que parece, não foi ainda o suficiente 'prá que entendêssemos que precisamos nos unir realmente, caminhar juntas e brigar juntas ou essas coisas todas continuarão acontecendo - hoje com outras, amanhã com você ou comigo. Quem será a próxima anônima a ser estuprada, humilhada verbalmente ou fisicamente - quem será a próxima a morrer assassinada por motivos fúteis??

Penso que as mulheres muçulmanas não são as únicas a vestir uma burca.
Na verdade, cada vez que nos calamos diante de toda essa violência - física e moral - vestimos também nossa burca.

23225, seja qual for o seu nome, esse desabafo eu fiz por você, que bem podia ser eu ou minha filha.
Eu fico por aqui, esperando não ser a única indignada.

Jordana Lima duarte.

terça-feira, 23 de março de 2010

Mulheres são valentes. Veja quantas culpas nos foram impostas desde o Paraíso...
Quantas humilhações e cobranças por todas as coisas que não deram certo - todas as maldições sofridas pelos homens foram sempre atribuídas às mulheres.
Imagine a quantidade de sangue e lágrimas que chegaram aos pés do Criador, desde que se resolveu colocar sobre os ombros de uma mulher a responsabilidade por todos os males da humanidade.
Ninguém se atreveria a calcular o número de mulheres maltratadas, trancafiadas, torturadas, mutiladas, queimadas por razões que nem o homem saberia explicar com honestidade; que nem Deus poderia suportar enxergar; que nem o diabo poderia justificar.
Como chegamos até aqui?...
É simples: chegamos até aqui como animais de carga, como reprodutoras, como objeto de satisfação ou desabafo sexual.
Algumas de nós poderiam argumentar que soubemos sobreviver por milênos com inteligência, perseverança e coragem.
Sim, somos perseverantes cada vez que teimamos em viver com plenitude e buscar nossos direitos e nosso espaço no mundo, em muitos momentos arriscando nossas vidas - como muitas o fizeram no decorrer da história.
Sim, temos coragem e assumimos nossas lutas diárias em busca de nossa sobrevivência e crescimento - 'prá nós, 'prá nossos filhos e 'prá quem nos acompanhar - acrescente-se aí a generosidade: coisa mais tipicamente feminina que masculina e desconfio muito que Deus colocou isso em nós unicamente 'prá impedir a extinção da humanidade. Sim - a perpetuação de nossa espécie não se dá apenas pelo sexo, mas também pela generosidade feminina e disso trataremos mais tarde.
Agora, tratemos da inteligência... sobrevivemos - nós mulheres - todo esse tempo também devido a um tipo particular de inteligência??
Lamento dizer isso mas, se fôssemos inteligentes, competiríamos menos entre nóse , quem sabe, já há muito teríamos hoje a igualdade de gêneros como uma coisa natural.
Seria muita ignorância de minha parte negar que, em muitos instantes da história, lutamos juntas e conquistamos muitas coisas, derrubamos muitos muros e fomos abrindo algum espaço, em meio à selva masculina. Mas não foi ainda o suficiente.
Vejamos essas Damas de Branco - de Cuba: elas lutam por seus homens (que muito provavelmente não lutariam por elas do mesmo modo, mas elas não se importam daí a generosidade) e, num instante extremo e crucial, resolveram se unir e sair às ruas, enfrentando a polícia e quem quer que estivesse em seu caminho.
Foram presas, muitas ficaram feridas e no dia seguinte... lá estavam elas de volta, com pernas e braços engessados, cheias de curativos, lutando a mesma luta do dia anterior e ainda mais aguerridas.
ENTÃO É POSSÍVEL!!
É possível hoje em dia que mulheres lutem aguerridas, mesmo considerando a possibilidade do fracasso iminete e em favor não de si mesmas, mas de outrem.
Isso é generosidade, coragem e inteligência, sim.
Inteligência porque com certeza encontraram dificulades de organização e orgulhos pessoais no meio do caminho e os superaram. Tiveram medo - claro que sim, iam enfrentar a polícia cubana - e o enfrentaram, porque sabiam que isso chamaria a artenção do mundo. E estavam certas: se arriscaram em favor de seus homens e, de quebra, em favor de seu país...
Mais acima eu questionei o fato de termos chegado até aqui devido também à nossa inteligência... se somos tão inteligentes, O QUE ESTAMOS FAZENDO QUE AINDA NÃO SAÍMOS ÀS RUAS, VESTIDAS TAMBÉM DE BRANCO, EM SOLIDARIEDADE A ESSAS MULHERES DE CUBA, QUE LUTAM A LUTA DE SEUS HOMENS, A LUTA DE SEU PAÍS... QUE LUTAM A LUTA DE TODAS NÓS???...
...
Onde estão nossa generosidade, nossa coragem e nossa inteligência??
Vamos assistir aquelas mulheres lutando sozinhas, por uma causa que devia ser de todas??
...
Eu conclamo a todas as mulheres inteligentes que nos organizemos e nos juntemos às mulheres de Cuba - desprezadas por nosse Presidente apesar de ter esperado tanto por seu apoio.
Temos a chance sui generis de fazer o mundo girar com nossas mãos, na velocidade que quisermos, se somos realmente inteligentes.
Vamos agarrar essa chance e nos dar as mãos, e pensar juntas, e gritar juntas (se assim for necessário).
Chega de conversas, vaidades e filosofias - vamos nos vestir de branco e pressionar o Luiz Inácio.
Nós temos esse poder - vamos usá-lo.

Saudações a todas,
Jordana.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Nosotros

VIVA ZAPATA - O manifesto está correndo o mundo, vamos todos assinar:Nosotros