PEIXE ACARÁ!
Há 4 semanas
Sou uma mulher nua no meio da praça. Estou despida de armas e qualquer tipo de proteção. Não posso dizer que vivi muito, mas as dores do mundo tornaram meu coração em remendos sobrepostos - como todo coração de mulher. Aos que me olham, pareço vestida, armada e sempre a postos para o confronto... Me olham, mas não me vêem. E há um homem que vejo caminhar também nú, mas os outros não sabem... Porque estão todos nús e com tanto medo que não podem ver que ninguém está vestido. O homem caminha em minha direção e sua atitude é intimidadora. Ele quer me subjugar porque se sente de algum modo ameaçado em seu poder - aquele poder que ele não tem, mas ninguém sabe... e nem pode saber. Ele caminha decidido e pensa que penso que está armado. Mas o vejo nú e o vejo desarmado - eu olho nos olhos dele e vejo o medo, vejo a insegurança e a certeza escondida de não ser ele melhor ou mais forte que essa mulher nua que não se encolhe diante de sua presença... Estou nua e estou no meio da praça... Não sou menor nem maior que esse homem mas ele me teme e eu a ele. Não somos iguais, nem mais bonitos um que o outro - ou mais inteligentes. Somos o complemento um do outro, um encaixe perfeito e juntos - como reza a lenda grega - desafiaremos os deuses!! Mas como todos à nossa volta, não vemos isso. Apenas vemos a ameaça, porque os deuses colocaram em nosso coração um instinto irracional de sobrevivência. Então uns perseguem, outros são perseguidos e o fim é que acabemos todos mortos, porque somos incapazes de nos encaixar e terminar a guerra... E ainda estou nua no meio da praça... e aquele homem também. Estamos parados tentando nos ler. Um segundo depois, estamos mortos.